terça-feira, outubro 12, 2021

Crianças,Alfabetização e Leitura

 

Hoje é dia das Crianças!

E é dia de agradecer a criançada que passou e passa pela minha vida. E por isso, vou contar uma historinha de como as crianças motivaram meu trabalho.

 Pegue um café e vá lendo.

Anos 90. Aceito o desafio de coordenar um projeto de alfabetização em 48 escolas rurais. Isso foi há um looongo tempo!

Deparo-me com livros didáticos muito ruins, em todas as escolas. Para terem uma ideia, o livro de português era todo ilustrado em cinza e azul marinho. E os textos eram do tipo Eva viu a Uva. Bem no estilo dessa tirinha da Mafalda:


Como professora de português e estudiosa sobre alfabetização usar aquilo era inadmissível.

Daí, vencido o boicote das professoras passamos a usar receitas, rótulos, folhetos de supermercado e tudo que remetesse à função social da leitura e da escrita.

Mas, as professoras e a chefe cobravam a leitura de livros. Bom, eu sempre escrevi muito. Então escrever literatura infantil era o caminho.

Começo a produzir livros com os recursos que tínhamos à época: Máquina de escrever, xerox e nanquim. E uma amiga ilustrava os livros, enquanto eu ia escrevendo. Em preto e branco, porque era o que tínhamos.

E enquanto tudo isso rolava eu tinha que visitar cada dia uma escola, para ver como a coisa andava e ajudar professoras e alunos. O projeto começa a dar muito certo. E as crianças, que antes apostavam que nenhum escritor iria à escola delas, começam a ficar bem íntimas e passam a pedir histórias disso, histórias daquilo. Teve até pedido de histórias sobre esqueleto 😲E o filho e os sobrinhos também davam palpites. E eu escrevia.

E isso rendeu 22 livros.

E os alunos coloriam, faziam outras histórias a partir das minhas, faziam outras ilustrações e me mandavam, junto com bilhetinhos.

Vendo como eles gostavam de criar suas próprias ilustrações resolvi enviar, para todas as escolas, um livro só com o texto para que eles ilustrassem a história. E fiz um concurso, com banca e tudo, que escolheu as ilustrações mais legais. Não importava se eram bonitas ou não. Importante era ser legal.

Essas, aí abaixo, são algumas páginas de um livro que eles ilustraram.


As crianças colocaram no desenho a compreensão que elas tiveram do texto. E eu adorei.  💓

Final do ano, molecada toda lendo e escrevendo pra caramba. Os livros foram enviados para todas as escolas, deixando de ser material exclusivo para zona rural, graças à secretária de educação que era uma educadora de verdade.

Depois de 4 anos, o projeto foi premiado como um dos 20 melhores projetos de alfabetização do Brasil, pela rede Latino-Americana de Alfabetização Integral. E isso me permitiu viajar quase todo o país, mostrando o trabalho. E conheci gente fantástica. Gente que dá o sangue para alfabetizar uma turma. E os livrinhos foram juntos. Muitas cidades passaram a usá-los como suporte para a alfabetização e cartinhas e desenhos chegaram a mim, de todo o país.

E o melhor de tudo isso foi a cartinha que recebi de uma aluna.

 

Quase um Oscar, escrito em papel de seda.

E aí veio a pandemia. E o caos nas escolas.

Muitos professores que já me conheciam e outras que eu não conhecia, pediram ajuda. E mesmo estando envolvida em outros projetos, lá fomos nós. E deu certo de novo. E os livrinhos e todo o meu material didático voltou a circular por aí, principalmente para alfabetização.

Vou ver se arranjo um tempo para digitalizar os livros e disponibilizar aqui no blog. E quem quiser, poderá usar com seus alunos, sem custo algum, porque não fiz esses livros pra ganhar dinheiro. Como professora eu já sou rycah!😊

Assim que estiver pronto, aviso aqui.

Ah, e esse trabalho migrou pra dois blogs: O Historinhas onde a garotada dizia o que deveria acontecer com os personagens e esse aqui, onde dou palpites aos professores sobre o que pode ser feito em sala de aula.

O Historinhas não está mais on-line, foi “sumido” pelo servidor do Terra, mas rendeu um artigo apresentado na SBIE, em 2005, e que é citado até hoje. Chique, né?

Tá disponível aqui:

https://br-ie.org/pub/index.php/sbie/article/view/416/402


E você ?  Seus alunos influenciaram seu trabalho?


 

 



 


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